Aposta definitiva nos vinhos brancos
Pesquisas recentes apontam um aumento do consumo de vinho branco. De olho nesta tendência, a Sogrape, gigante da indústria portuguesa, apresenta rotulos brancos de várias regiões do país
Suzana Barelli
Com 1.600 hectares de vinhas, plantadas em 12 regiões vinícolas de Portugal, e com pelo menos 77 variedades diferentes cultivadas, vale sempre acompanhar as estratégias da Sogrape, uma das gigantes do vinho em Portugal. E uma delas é a decisão de focar, definitivamente, nos brancos, embasada nas pesquisas recentes que apontam um aumento do consumo deste estilo de vinho pelo mundo.
Aqui só um exemplo: segundo a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) os brancos, que representavam 46% da produção de vinho no início deste século, agora chegam a 49% do total, respondendo a esta maior procura do consumidor.
Uma prova deste interesse está na degustação comandada por Fernando da Cunha Guedes, presidente da Sogrape, durante o evento Vinhos de Portugal, realizado em meados de junho em São Paulo. É uma aposta que, primeiro, impressiona e nos leva a abordar o tema em pleno inverno brasileiro, o que significa aumento do consumo dos tintos...
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E, segundo, surpreende por trazer um profissional do porte de Guedes, que tem joias em seu portifólio como Barca Velha, um dos tintos mais ícones de Portugal, ao Brasil para conduzir uma prova de... brancos. Em junho do ano passado, vale lembrar, ele veio ao nosso país exatamente para lançar a safra 2015 do Barca Velha, em um evento com todo o requinte que este tinto merece.
Mas na degustação deste ano, Guedes dividiu o palco com o especialista Jorge Lucki, e mostrou a importância que os brancos estão ganhando no portfolio dessa empresa familiar e que tem levado os seus enólogos a garimparem uvas que possam dar origem a vinhos únicos entre as suas 25 quintas portuguesas.
As duas maiores surpresas vieram de um projeto relativamente novo na companhia, batizado de Série Ímpar. Com produção pequeníssima para os padrões da Sogrape e ainda indisponíveis no Brasil, o próprio Guedes trouxe as garrafas na mala para apresentar por aqui – os vinhos premium da Sogrape são importados pela Zahil. “Nossa proposta com a Série Ímpar é fazer vinho em qualquer lugar de Portugal, é explorar a nossa diversidade”, conta Guedes.

Na verdade, esses vinhos são um desafio que Guedes lançou em 2018 aos principais enólogos da companhia - como Luiz Sottomayor, que elabora, entre outros vinhos, o Barca Velha e é responsável pelos rótulos do Douro; Luiz Cabral de Almeida, enólogo dos principais rótulos do Alentejo e de Lisboa, ou Diogo Sepulveda, dos Vinhos Verdes e da Bairrada -, de criar vinhos que ele chama de inspiração, ou seja, originais, especiais e únicos. Nesta linha, diz o CEO, não há limite à inspiração e a premissa é focar na qualidade e na diferenciação.
Os primeiros resultados deste desafio são os brancos Série Ímpar Retorto 2018 e o Série Ímpar Sercialinho 2019, as tais garrafas que vieram na mala de Guedes. O Retorto é um corte de arinto, bical, fernão pires, roupeiro e tamarez, criado pelo enólogo Luís Cabral Almeida. Vem de um vinhedo de menos de 1 hectare de vinhas velhas, localizado a 640 metros de altitude do nível do mar, na Serra de São Mamede, no Alentejo. As vinhas foram plantadas há mais de 100 anos, conduzidas em vaso, e dão origem a 2.965 garrafas. Impressiona pela sua delicadeza, ao mesmo tempo em que é bem complexo em aromas e sabores.

Por sua vez, o Série Ímpar Sercialinho 2019 vem da Bairrada, de 2,5 hectares cultivados com esta uva, plantada na Quinta de Pedralvites. Foi este vinho, da safra de 2017, inclusive, que deu início a esta série. A ideia do vinho foi do enólogo Antonio Braga, que não está mais na companhia. A uva é um cruzamento das castas uva cão e vital e dão origem a apenas 4.500 garrafas por safra. O branco, de frescor marcante e boa cremosidade no paladar, fermenta e amadurece em barricas de carvalho de 500 litros.
Os dois vinhos exemplificam a busca por elaborar brancos de maior qualidade. E sempre vale lembrar que o aprendizado com os vinhos premium passa para as demais linhas de vinho. Os demais brancos degustados no painel foram o Quinta do Azevedo Escolha 2023, que é elaborado na região do Minho com a uva alvarinho; o Margado de Santa Catherina 2022, um 100% arinto, de Bucelas; o Quinta dos Carvalhais Encruzado 2023, do Dão, e o Herdade do Peso Revelado Branco 2024, com arinto e antão vaz, no Alentejo. Foram brancos também de bons predicados. A impressão, ao provar estes seis vinhos, é que a aposta nos brancos é um caminho vem volta. A conferir.
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Casa Ferreirinha Vinha Grande Branco 2022
Apresentando visual dourado claro, este bom exemplar do Douro traz um nariz com frutas brancas em grande quantidade, ervas de cozinha (alecrim) e alguns toques cítricos. Em boca, mostra frescor e uma acidez marcante que faz salivar. Limpo e leve, mas com personalidade. Coerente do nariz à boca.
Herdade do Peso Sossego Branco 2022
Um branco encorpado, bem típico da quente região do Alentejo. Os aromas remetem à ameixa branca, nectarina, casca de laranja e cítricos em geral, com bastante expressividade. Na boca, revela-se untuoso, estruturado e marcado por uma fruta muito madura, com sensação de dulçor (embora seja seco). Acidez apenas mediana.
* Preços indicados pelos produtores e importadoras em julho de 2024 (Guia 2024) e julho de 2023 (Guia 2023)
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