O dilema dos pontos
Pontuar vinhos é um tema controverso, mas também fundamental para avaliar rótulos em um Guia de Vinhos. Saiba quais critérios adotamos para dar nossas notas | Vinhos: Os mais bem pontuados do Guia
Marcel Miwa
O tema é espinhoso, mas nem por isso vamos nos esquivar do assunto.
Avaliar os vinhos através dos pontos é de uma didática tão confortável que muitas vezes é a própria muleta para cravar a qualidade de um vinho. Recentemente até ouvi falar de confrarias que provam apenas vinhos com mais de 90 e tantos pontos. Sem julgamento.
Sem parecer um dinossauro saudosista de uma era não vivida, a partir da década de 1880 a avaliação de vinhos, ou melhor, até então resenha, começou a receber pontos, para orientar melhor o perfil de uma garrafa em um momento de expansão das zonas produtivas, em especial com a entrada do novo mundo no tabuleiro do jogo. O movimento começado na Itália, logo chegou na Inglaterra (grandes compradores de vinho) e a abordagem se mostrou útil, sendo formalizada pelo professor de enologia Giacomo Grazzi-Soncini na obra Wine: Classification, Tasting, Qualities and Defects (1892).
Avançando o filme, no final da década de 1950, a Universidade de Davis, na California, criou a metodologia para se avaliar o vinho na escala dos 20 pontos, onde segundo critérios de visual, nariz e boca (equilíbrio entre sabor, açúcar, álcool, acidez, tanino e acidez volátil - avinagrado) o vinho era pontuado em uma escala 0-20 pontos. Bem, na prática a escala era 12-20 pontos, onde 12 era um vinho defeituoso, 15 um vinho mediano, 17 representa uma qualidade superior e 20 uma bebida excepcional. Apesar de criado nos Estados Unidos, a medida foi (e ainda é) muito utilizada em países europeus.
No final da década de 1990, o advogado e amante de vinhos, Robert Parker, começou a distribuir seus boletins de avaliação de vinhos adotando a escala 0-100 pontos (na prática 50-100 pontos). Sua abordagem ganhou repercussão com sua projeção como crítico, em especial após cravar a qualidade da safra 1982 em Bordeaux, exaltando os vinhos desse ano logo nas primeiras degustações, enquanto os críticos europeus eram mais reticentes e posteriormente dando razão ao norte-americano. Nesta onda (0-100) surfaram e surfam boa parte das publicações, concursos e avaliadores que atuam no setor.
E, como qualquer mercado acirrado, há uma conveniência ao se levantar o sarrafo. “E se um vinho mediano e correto passar a ter como referência os 90 pontos, em vez dos 85 pontos?” - apenas um pensamento intrusivo. “E se o vinho bem feito e equilibrado for balizado nos 95 pontos?" - outro exercício criativo apenas, juro. Na defesa do crítico, os filtros ainda estão funcionando, apenas a baliza foi recalibrada. Obviamente, na lógica comercial, a abordagem também é boa para a vinícola estampar seu ótimo desempenho e apoiar o generoso avaliador. Porém, um cenário possível e subsequente seria: até onde é possível levantar esse sarrafo?
É inegável que os números possuem uma objetividade exemplar, em especial quando o consumidor tem poucos segundos para fazer sua decisão de compra, porém quando tudo for acima de 90 pontos o sistema tende a cair em descrédito e colapsar. Afinal, quem na época de escola e faculdade conseguiu média acima de 90 pontos em todas as matérias? Exceto os pescadores, claro.
Como o vinhos são pontuados no Guia
Assim chegamos a um ponto personalíssimo e que já nos causou algum desconforto. Por vezes fomos consultados sobre as razões de alguns vinhos receberem no nosso ranking do Guia do Vinhos pontuações tão baixas (leia: abaixo de 90) ou porque um vinho de uma mesma vinícola ganhou melhor pontuação em seu rótulo de entrada que em um rótulo de gama superior. E, objetivamente, as respostas são simples. No Guia do Vinhos, o primeiro e principal recorte é feito por faixa de preço. Assim cada vinho é provado no contexto de sua faixa de preço. Um vinho até R$100 não é comparado com um vinho com preço entre R$ 200 e R$ 300; o que permite que um rótulo de uma vinícola da primeira faixa de preço se destaque e outro rótulo da mesma vinícola, mas de outra gama e faixa de preço, talvez não se destaque tanto dentro daquele universo.
Por fim, sobre os números, aqui a abordagem que adotamos no Guia dos Vinhos para as faixas de pontuação:
95-100 pontos - Excepcional, além de equilíbrio e complexidade, reflete o terroir de sua região
91-94 pontos - Ótimo vinho, com equilíbrio e capacidade de agradar iniciantes e iniciados, retrata algo sobre sua origem.
88-90 pontos - Muito bom e versátil, expressão que respeita sua faixa de preço.
85-87 pontos - Bom e recomendável vinho; não é um protagonista mas pode valorizar uma ocasião (por isso, leia a descrição e os ícones)
0-84 pontos - Não recomendamos e não entram no ranking
Vinhos do Guia: rótulos de 95 pontos do Guia 2024
Adriano Ramos Pinto Reserva Edição Limitada
Edição especial que vale a pena conhecer. Visual rubi claro com uma leve coloração atijolada, apresenta nariz com fruta vermelha cristalizada, pimenta-da-Jamaica, canela, cravo e bolo de frutas cristalizadas. Em boca, é macio, untuoso, com uma doçura não muito pronunciada, mesclando frutas secas e amêndoa tostada. Álcool e frescor corretos. Complexo.
Não são muitos vinhos de Ribera del Duero que se encaixam nas faixas de preço do guia, e aqui a entrega é completa: frutas negras maduras, com intensidade e pureza, toque integrado da madeira (4 meses nas barricas), mais acidez e taninos firmes, na medida que o conjunto pede. Complexidade com equilíbrio, pronto para beber.
* Preço indicado pelos produtores e importadoras em julho de 2024
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Suzana Barelli, Marcel Miwa, Beto Gerosa e Ricardo Cesar.
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